"Com Que Voz", um dos mais emblemáticos discos de Amália Rodrigues, chegou hoje às lojas em edição remasterizada e aumentada, que inclui temas inéditos e versões alternativas.
Já à venda nas lojas em CD e em todas as plataformas digitais.
Brevemente disponível em vinil.
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«Ouvi sempre, aos que mais conhecimento e bom gosto tinham para o dizer, que “o melhor disco português de sempre é o Com que Voz.” E mesmo a expressão “tudo é relativo…”, quase sempre ouvida depois da atribuição de pódios similares, só vem lembrar, numa espécie de contradição de si mesma, que os valores absolutos afinal sempre existem. O lugar cimeiro de Com que Voz entre os discos nacionais é um deles. Posso parecer redundante, mas nunca será demais afirmá-lo: em Portugal nunca um cantor do nível vocal e interpretativo de Amália, se é que houve mais algum, gravou um álbum com esta coerência artística, esta elevação poética e este requinte musical, ainda para mais feito no auge das suas capacidades.
Foi o primeiro LP de Amália só com música de Alain Oulman e o tempo transformá-lo-ia no símbolo maior da revolução que fizeram na nossa música. É, desse prisma, o mais perfeito álbum que nos deixou a também mais moderna e inteligente dos cantores portugueses.
Em discos anteriores Amália tinha já ultrapassado convenções e barreiras artísticas, e tinha atingido cumes de perfeição musical, mas em nenhum, como em Com que Voz, se aliaram de forma assim lapidar duas características que tornaram a sua arte tão única: a vocalidade sem par, aliada à maneira muito original que tinha de dizer as palavras, e a genial acentuação que dava à própria frase musical.
Se o disco dos discos de Amália foi gravado em poucos dias, grande parte deste repertório foi esculpido durante anos, como o demonstram as seminais versões de alguns fados, até há pouco tempo inéditas, reunidas nas edições de Fado Português e Fados 67.
Por outro lado, a sensação de prodígio aqui conseguida viria iluminar uma série de sessões de gravação, na esperança de fazer outro LP com fados de Alain Oulman e talvez repetir o milagre. Num capítulo intitulado “à maneira do Com que Voz” é reunida aqui a sua primeira parte, com todo o material, algum dele inédito, gravado na proximidade das sessões do álbum, e que mantém o ambiente poético e até a impressão digital sonora própria deste disco, para além de alguns, infelizmente poucos, takes alternativos. A segunda parte dessas sessões será em breve publicada num disco dedicado a ensaios de estúdio inéditos de 1970, nos quais Amália experimentou pela primeira vez muitos dos fados gravados mais tarde para o LP Cantigas numa Língua Antiga.
Voltando ao Com que Voz, disse-me Hugo Ribeiro que Alain Oulman se tinha emocionado profundamente nas gravações do disco, “ele que não era homem de chorar”. O excepcional técnico de som, que viu sempre no Com que Voz a sua obra maior, lamentava também nunca o nome de Fontes Rocha ter sido referido nas autorias, “o Fontes fez aquelas introduções todas, só as melodias dos fados é que eram do Alain”.
Senhor Ribeiro, passados cinquenta anos sobre as sessões que originaram esta “sua” obra-prima – aquelas em que o Alain chorou –, não tentamos fazer justiça apenas a Fontes Rocha, também lhe agradecemos, a si, infinitamente, ter carregado nos botões que gravaram o Com que Voz. Como agradecemos ter ligado os fios que ofereceram ao futuro tantas obras-primas, todas apaixonadamente trazidas por si até nós.»
Texto de Frederico Santiago
ALINHAMENTO DO DISCO
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1 Naufrágio
2 Maria Lisboa
3 Trova do Vento que Passa
4 Com que Voz
5 Cravos de Papel
6 As Mãos que Trago
7 Gaivota
8 Havemos de Ir a Viana
9 Cuidei que Tinha Morrido
10 Formiga Bossa Nossa
11 Meu Limão de Amargura
12 Madrugada de Alfama
à maneira do Com que Voz
13 Amor sem Casa
14 Amêndoa Amarga (versão inédita)
15 Fui à Fonte Lavar os Cabelos (inédito)
16 Partindo-se
17 É da Torre mais Alta (versão inédita)
18 Madrugada de Alfama (take alternativo)
19 Trova do Vento que Passa (take alternativo)
20 Cravos de Papel (com 4 guitarras)
bónus
21 Formiga Bossa Nossa (com Thilo Krasmann)